Casas de Família




Em nossa odisséia rumo ao bairro Jardim Itatinga em Campinas, algumas particularidades marcaram essa visita. Uma delas foi a maneira " criativa " que os moradores encontraram para preservaram seu espaço, demarcar seu território isolado, distinguirem-se do todo – o uso da frase "RESIDÊNCIA FAMILIAR" – como mecanismo de separação. Se funciona, nós ainda não sabemos, mas passarinho me contou que, eventualmente, mesmo com a fixação da placa, os moradores são surpreendidos por visitantes não tão bem vindos: ora bêbados, ora em turmas, ora ouvindo-se os barulhos de businas nas frentes das suas casas. Tudo por acharem que se trata de uma brincadeira, o uso de tal fachada de identificação.Se a tal identificação funciona ou não, saberemos na nossa próxima odisséia, de certeza fica o fato de quão curioso é, viver num meio badalado como é o Jardim Itatinga, e imaginar que a simples fixação de um lembrete como esses seria suficiente para terem seu espaço, tempo, liberdade preservadas. Talvez seja tão ingênua essa idéia como a de um jogador fanático da ponte preta, em plena final de campeonato paulista no brinco de ouro, estar entre os torcedores do time oposto, no caso o Guarani, identificando-se com a camisa do time arquirival, supor que seu espaço, direito e liberdade serão respeitados. Caso tenha alguma dúvida, experimente isso na próxima oportunidade que tiver para testar essa teoria......

Dados das entrevistadas do dia 30 de março de 2008

Entrevista 1

DADOS PESSOAIS

Nome (fictício): Flávia
Idade: 18
Cidade de origem: Assis (Interior de São Paulo)
Nível escolar: 1º ano do ensino médio. (Não pretende voltar a estudar).
Estado civil: Solteira (Namora)
Situação familiar: Pais divorciados
Religião: Sem religião (Acredita em Deus)
Opção sexual: Bissexual
Tempo de profissão: Quatro anos

DADOS SOBRE PERSONALIDADE

Gosto musical: Gosta de todos os tipos de música, (menos Rock.).
Lugares que freqüenta: Flor de Liz, Boates: Gold, Swingers e Baile Funk nas favelas.
Curso profissionalizante: Não possui.
Drogas e Bebidas: É usuária de cocaína, maconha e todo tipo de bebidas alcoólicas, mas, (ressalta que só faz uso de drogas quando está de folga).
Uso de preservativos: Sempre, (menos com o namorado).
Exames de HIV e DSTS: Regularmente.
Maior medo: Homens que cheiram a lixo. (Não considera um medo, mas algo que mais a incomoda).

Entrevista 2

DADOS PESSOAIS
Nome (fictício): Daiane
Idade: 21 anos
Cidade de origem: Santos, SP
Nível escolar: 7ª série do ensino fundamental. (Não pretende voltar a estudar).
Estado civil: Casada
Situação familiar: Pai falecido e a mãe detida
Religião: Batizada na igreja dos Mórmons, mas atualmente não freqüenta.
Opção sexual: Heterossexual
Tempo de profissão: seis anos

DADOS SOBRE PERSONALIDADE

Gosto musical: Funk
Lugares que freqüenta: Flor de Liz, Boates: Gold, Swingers e Baile Funk nas favelas.
Curso profissionalizante: Costureira
Drogas e Bebidas: Não usa.
Uso de preservativos: Sempre, (menos com o marido).
Exames de HIV e DSTS: Regularmente.
Maior medo: Pegar uma DST.

Entrevista 3

DADOS PESSOAIS

Nome (fictício): Carol
Idade: 21 anos
Cidade de origem: São Paulo, SP.
Nível escolar: Ensino Médio completo
Estado civil: Solteira (Namora)
Situação familiar: Pais deparados
Religião: Católica
Opção sexual: Heterossexual
Tempo de profissão: um ano e meio (parou há dois meses)
*Atualmente gerencia as finanças da irmã, que continua no trabalho.

DADOS SOBRE PERSONALIDADE

Gosto musical: Pagode
Lugares que freqüenta: Pagodes
Curso profissionalizante: Não possui
Drogas e Bebidas: Não usa.
Uso de preservativos: Sempre.
Exames de HIV e DSTS: Regularmente.
Maior medo: Pegar uma DST.

RELATÓRIO DE ESTUDO DE CAMPO

Data: 30 de março de 2008
Horário de chegada: 16Hs 30min.
Horário de saída: 18Hs 20min.
Local: Jardim Itatinga.
Integrantes: Rayssa e Adalex
Entrevistados: Flávia, Daiane e Carol * nomes fictícios.


Dados do Centro de Saúde do Jardim Itatinga (Campinas) indicam que lá trabalham cerca de 1,9 mil profissionais do sexo. O diferencial do local em relação a outros centros de prostituição está no fato de que as mulheres residem no bairro em que trabalham. “Trata-se de um bairro residencial com estrutura e pronto-atendimento médico. A entrevista foi realizada com três garotas cujo nome são fictícios: Flávia de dezoito anos, Daiane e Carol ambas com vinte e um anos que trabalham na mesma casa no Jardim Itatinga, porém duas delas (Flávia e Daiane) trabalham em outro ponto da cidade, conhecido como “ boca do lixo” e na cidade de Santos, mais precisamente na zona portuária da cidade. Uma peculiaridade que merece ser ressaltada é o fato de que a Carol é uma ex-garota de programa, sendo que saiu da profissão há dois meses, atualmente gerencia as finanças da irmã que trabalha como garota de programa no bairro.
Notamos alguns aspectos em comum entre as entrevistadas: em todos os casos a ausência da figura paterna, sendo que os pais da Flávia e da Carol são divorciados e o pai de Daiane faleceu quando ela tinha quatorze anos; as famílias tem conhecimento das atividades profissionais.
Todas elas afirmam que entraram para prostituição por uma certa “influência” de conhecidas que já trabalhavam na área, inclusive Carol que entrou por intermédio da irmã mais velha. Daiane e Flávia iniciaram com a mesma idade, quatorze anos e para tal falsificaram seus documentos, sendo que, de acordo com a legislação brasileira, é proibido que menores de dezoito anos exerçam essa profissão. Ambas não concluíram o ensino médio, e não pensam em voltar á estudar, pois afirmam que é difícil conciliar o trabalho e os estudos, nesse ponto Carol se diferencia, concluiu o ensino médio e pretende fazer faculdade de Medicina.
Segundo as garotas, em média oito entre dez garotas que engravidam no Jardim Itatinga não ficam com a criança, as mães doam os filhos para instituições de apoio, ou normalmente recorrem à prática mais comum para interromper uma gravidez indesejada, optam pelo aborto, Flávia alegou ter realizado pelo menos dois abortos, um via remédios e outro pela fragilidade de seu útero devido ao primeiro caso.
Quando o assunto é Aids, ou doenças sexualmente transmissíveis, elas afirmam a total prevenção com o uso de preservativos, anticoncepcionais e gel lubrificante na intenção do não rompimento da camisinha. Alegam a prática de exames de rotina com freqüência, e elogiam a atuação médica na região, que realizam testes de HIV sempre que necessitam, como ginecologistas e a distribuição de preservativos.Afirmam que de todas as garotas conhecidas que possuem o vírus do HIV, a maioria foi infectada pelo parceiro e não via clientes.
O estabelecimento visitado que funciona das 10 hs às 23 hs, conta com seis profissionais do sexo, além de quatro quartos que podem ser alugados por qualquer pessoa, à proprietária do local - Daiane - gerencia junto com a própria mãe, juntas possuem mais duas casas de prostituição, uma no centro da cidade e outra na cidade de Santos que funciona vinte e quatro horas por dia. No ponto do Jardim Itatinga são cobradas dez reais pelo aluguel do quarto e as bebidas consumidas pelos clientes. A região conta com uma divisão onde atuam homossexuais, travestis e as garotas de programas que são mulheres.