Análise da visita do dia 13 de maio de 2008

Depois da nossa primeira visita ao Jardim Itatinga, confesso que fiquei muito mais tranquila e a vontade para estudar as garotas de programa.Agora sei que antes de qualquer coisa, independente de cor ou da profissão, elas são seres-humanos, e que possuem sonhos, metas e valores, assim como você e eu.
Quando chegamos ao local combinado, em meio ao horário de trabalho de muitas mulheres profissionais do sexo, lá estava nossa entrevistada, parada na calçada vestida com um shorts jeans curto, uma businha que deixava sua barriga a mostra,de tenis e um rabo de cavalo.Ela estava de costas para nós com mais duas mulheres, a sentada na cadeira estava gravida, quando nos aproximamos Carla* que nos daria a entrevista pediu que esperassemos um pouco, ela e as outras duas estavam acabando de enrolar um baseado (cigarro de maconha)e iriam fumar, perguntou se nós nos incomodariamos, dissemos que não que esperariamos do outro lado da rua, com isso pude analisar o ambiente em que estavamos. Uma rua bem iluminada ás 20:00 hs da noite, muitas pesssoas passando de um lado para o outro, homens, mulheres, jovens bem vestidas, senhores voltando para casa depois de mais um dia de trabalho, um bar lotado com um som bem alto tocando um sertanejo animado, inúmeros carros, de todos os tipos de populares a importados.
As pessoas pareciam estar em uma festa, todos rindo, bebendo, conversando, o local é conhecido como Boca do Lixo, funciona durante o dia e a noite, há prostitutas de muitos valores,e muitos hotéis considerados baratos.Nem todas as mulheres que estavam ali eram prostitutas, algumas eram "primas" e "irmãs" termos denominados para quem pertende ao PCC ( Primeiro Comando da Capital)e é responsável pelo tráfico de drogas no local ,outras eram "amigas", conhecidas, ou simplismente estavam ali conversando e bebendo, a policia passava normalmente e fazia o seu papel, olhava tudo com olhos bem apertados fazendo de conta que eram honestos, que a qualquer hora podiam mandar prender alguém, mas como descobrimos até com a policia há acordo.Quem faz a segurança do local não são eles, eles eram "pagos" para não interferir, cada uma das meninas é responsável por sua própria segurança , Carla* disse que algumas usam estiletes ou até giletes para se proteger,e que todas se ajudam quando necessário, mas que é proibido brigar entre elas, ou causar qualquer tipo de tumulto, pois os "Patrões" que não são os cafetões como conhecemos em novelas, mais sim os donos das bocas (Pontos de drogas) tem total liberdade de expulsar quem brigar para fora dos pontos, ou seja, dos locais de prostituição.
Cada uma é responsável pelo seu próprio dinheiro, não sei se para vocês era assim, mas até aquele dia eu possuia uma imagem totalmente diferente, eu ainda tinha aquela visão de filme, onde as garotas trabalham para um homem que era seu cafetão, esse por sua vez batia nas garotas, confiscava o seu dinheiro e cuidava da sua segurança, mas não, a única contribuição que pagam é o aluguel do quarto que utilizam, que é no valor de dez reais no periodo de meia hora.
A Carla* é uma mulher bonita, inteligente,que se comunica muito bem, gosta de coisas e lugares muito parecidos com as meninas da nosso meio, cinemas, novelas, filmes, baladas, e principalmente viajar, ela adora a praia.
É casada a aproximadamente dois anos, o seu marido que apesar de saber da sua profissão, hoje em dia não concorda, ela disse que quando se conheceram já era prostituta nas ruas de Santos, mas não na Zona do Porto, disse que lá é lugar de drogados viciados em crak e em cocaina, ladrões, e prostitutas que não trabalham pela necessidade, ou desejo de realizar seus planos, mas que se submetem a sexo por drogas, ou por qualquer quantia em dinheiro, que lá não tem quarto de hotel que os programas são feitos em qualquer lugar, principalmente na boléia dos caminhões, disse que o cáis é um ambiente decadente, que ser prostituta já é ruim e que no Porto é ainda pior.
Morava em Maringá, Paraná, veio para morar em Santos em busca de condições um pouco melhor, terminar os estudos e trabalhar, seus pais não sabem e nem fazem a menor idéia em que ela trabalha, e que se um dia soubessem morreriam de desgosto, porque nenhum pai cria uma filha para se tornar prostituta, ela disse que quando tiver uma filha, até onde puder esconder o seu passado vai tentar, não por vergonha, mas porque essa vida não é orgulho pra ninguém, e que nunca enquanto viver vai permitir que a filha dela opte por essa caminho, pois uma vida dessas ninguém planeja, é culpa do acaso, foi assim que ela descreveu como entrou na prostituição.
Que não existe influência, nenhuma pessoa te obriga a isso, e "não é que você se acustuma à essa vida é a situação, você se acustuma é com o dinheiro...e que não é um trabalho normal é um trabalho aceito."
Disse que atende todos os tipos de clientes, desde os arrumados de terno e gravata que passam por ali depois do trabalho, garotada que vem em grupo de amigos para matar a curiosidade, até a bandidos, ela não faz nada a mais por dinheiro, não beija na boca, não faz sexo sem preservativo, não tira a parte de cima da roupa, não faz sexo anal, oral, com mulheres, grupal, esse último disse que já fez sim, no começo da profissão, mas que hoje gosta muito mais dela e que não aceita mais qualquer tipo de humilhação.
Nunca sofreu nenhum tipo de violência, nem por parte de clientes nem por parte de outras prostitutas, que a primeira vez que fez um programa na (hora H) não conseguiu, teve medo, nojo e não foi a diante, mas que via as amigas mais velhas chegando com tenis, com roupas novas, dinheiro pra sair e que como qualquer pessoa também queria isso pra ela, não a profissão mais os beneficos, e disse que essa vida não é uma vida fácil como dizem por ai, é humilhante e completamente feita de ilusão.
E que assim que conseguir concluir suas metas quer sair logo disso, suas metas são: terminar o tratamento médico que faz para engravidar, quitar o apartamento onde mora e o carro que possui.

Nenhum comentário: